8/08/2011

“Ode a um rouxinol” de John Keats


Meu coração dói
E um torpor apático aflige meu juízo
Como se cicuta eu houvesse bebido
Ou algum estúpido vulpino houvesse inalado
E após um minuto houvesse me afogado

Não é por inveja o tanto que possuis,
Mas na tua felicidade excessiva na qual sou feliz
Que tu, leve tria de alada de campos arvorados
Em alguma trama de faias verdes e incontáveis sombreados
Sobre o verão entoava os cantos despreocupados

Oh, por um gole de vinho cegado
Resfriado por um longo tempo nas camadas profundas da terra
Com sabor de flora e do verde da serra
Dança a canção provençal e jubilo bronzeado

 


Oh, Por uma taça cheia do sul caloroso
Cheio do verdadeiro rubor do hipocrene
Borbulhando de espumas até a borda
e tingindo de púrpura os lábios que a tocam

Aquela taça eu sorveria e o mundo se tornaria invisível
E contigo eu desapareceria em uma remota floresta
Sumir para bem distante
Até esquecer completamente
Contigo no meio da folhagem

O cansaço, a angustia e a aflição
Aqui onde os homens sentam e escutam
Um dos outros os gemidos
Onde a agitação e a tristeza sossegam um pouco
Onde a juventude cresce firme
E os fantasmas morrem

Onde pensar estará salvo do sofrimento
E o plúmbeo olhar desaparece
Onde a beleza não pode ocultar teu olhar brilhante
Nem um novo amor ansiar por algo além da manhã

Longe, muito longe eu voarei contigo
Nunca pela carroça Baco puxada por seus leopardos
Mas nas asas invisíveis da poesia
Contudo, o pensamento se assusta e se atrasa
Já contigo suave é a noite e por acaso a rainha lua
Encontra-se no seu trono cercada por sua corte de estrelas

Mas aqui não há luz, excetoa que vem do céu com o sopro da brisa
Através da umbrosa verdura e de caminhos serpenteantes e revoltosos

Não posso ver as flores aos meus pés
Nem sentir o oloroso incenso que paira sobre a ramagem
Mas inebriado na penumbra
Acho tudo doce

Graças à oportuna primavera
Contemplo a relva o bosque e as arvores frutíferas
Claros espinhos e madressilvas silvestres
Fugazes violetas deitassem sobre as folhas
E destacam-se o seu mais antigo broto

Surge uma rosa amarela cheia de orvalho
A sussurrar sua habitual canção do entardecer
Secretamente escuto
E muito tempo fico quase fascinado
Pela leveza da morte

Chamei-a por palavras ternas em várias rimas
Para se mesclar ao ar da minha calma respiração
Agora, mais do que nunca
Parece doce morrer para tudo acabar a meia noite
Sem nenhuma dor, enquanto tua arte flui
Tua alma te abandona num êxtase absoluto
E ainda tu cantarias e eu escutaria em vão
A fim de que teu réquiem tornasse um adeus

Tu não nasceste para morrer, pássaro imortal
Nem a fome dos homens ousou te abater
A voz, que a noite passada eu escutei
Também foram ouvidas pelos palhaços e imperadores de outrora

Talvez a tua própria canção há de encontrar o caminho
Através do triste coração de Ruthe
Quando o doente em sua casa,
Ela chorou lágrimas nutritivas que te alimentaram

As mesmas que te veste
Muitas vezes nos mágicos beirais
Nas espumas das vagas de perigosos mares
Ou na terra encantada do desespero

Desespero
Esta palavra é como um sino
Cujo dobre trás me de volta ao meu passado

Adeus
A ilusão não pode enganar para sempre
Adeus, adeus
Teu lamentoso canto silencia
Ainda pouco se ouvia perto das campinas sobre o regado
Nas encostas das montanhas

Mas agora esta sepultado profundamente
numa clareira de um vale próximo
Teria sido uma alucinação ou um sonho velado
E acabou aquela música
Estou desperto ou durmo...

(Poema extraído do Blog "Em meu Divã")

Do filme: Brilho de uma Paixão

Poema no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=H7Djnst6ulQ


Um comentário:

Priscila Rodrigues disse...

Rs, seu endereço deu no twitter que mostrou que vc tem um blog tbem.

Obrigada por citar meu blog, seja bem vinda.

Beijos..

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